quinta-feira, 22 de abril de 2010

Comunidade, Sociedade e Metrópole: novos paradigmas

Nas últimas semanas diversas famílias foram vitimadas por enchentes e deslizamentos de encostas no Estado do Rio de Janeiro, que infelizmente tirou a vida de muitas pessoas. A tragédia suscitou questões, tais como, a necessidade de planejamento e de ações de prevenção em áreas de risco. Esse cenário desvela as mudanças de cunho social que vem acontecendo nas últimas décadas motivadas pela atração que os indivíduos sentem pela vida na metrópole e seu apelo capitalista.

Acreditamos que a ascensão do capitalismo trouxe profundas mudanças para a subjetividade, pois esse sistema econômico tem a força de produzir novas “necessidades” para os indivíduos, transformando-os em consumidores vorazes de novas tecnologias, de marcas e de um novo estilo de vida. As metrópoles surgem ao redor das grandes indústrias, produzindo um modo vida marcado pela velocidade, pelo individualismo e insegurança. Hipnotizados pelo apelo consumista das vitrines de grandes lojas e shoppings, os moradores da metrópole se satisfazem com inovações tecnológicas (mp3, celular, TV de plasma, etc.) e se esquecem da precariedade em que vivem da falta de infra estrutura básica dos lugares onde residem, dos problemas de saúde, saneamento básico, etc.

Por outro lado percebe-se que os grandes centros urbanos produzem cada vez mais “passageiros cadavéricos”, que marcados pela velocidade, buscam saciar sua fome voraz por ter “coisas”. A falta, o vazio e o mal estar são visíveis e nessa imensa roda que gira sem parar não há lugar para a subjetividade. Num mundo onde tudo circula velozmente, a subjetividade se cristalizou. Não há mais sentimento de pertencimento, de territorialidade, pois tudo é muito rápido, passageiro e descartável.

Como conseqüência desse modo de existir instala-se a incerteza, a falta de segurança e a solidão. As famílias não se reúnem mais para o almoço de domingo e as comemorações, pois a velocidade do mundo capitalista traz a ilusão de que um computador com acesso a internet pode nos ligar aos entes que se encontram distantes. Na metrópole não há lugar, ou espaço, para o passageiro caminhante, pois passageiros cadavéricos tem pressa, pressa para chegar a lugar nenhum. A subjetividade nas metrópoles, se é que ela existe, é caracterizada pela indiferença urbana que não enxerga os velhos, os favelados, sem-teto, mendigos, trabalhadores e desempregados. Apesar da velocidade, essas pessoas não conseguem sair do lugar.

Um dos fatores que marca a vida na metrópole é o desaparecimento da comunidade. Zigmund Bauman retrata a vida na comunidade diferenciando-a totalmente da sociedade. Ele afirma que a comunidade se caracteriza por ser um lugar cálido, confortável e aconchegante, além de ser um lugar seguro. Numa comunidade todos se entendem bem, há confiança mútua e se pode contar com a boa vontade dos outros. A comunidade possui como elementos constitutivos as relações de sangue, lugar, parentesco e vizinhança, sendo que todos compartilham o que possuem, e o entendimento surge naturalmente de forma recíproca e vinculante, ao mesmo tempo em que expressa a vontade de todos que se unem. O entendimento não precisa ser procurado, e muito menos construído, pois já está lá, completo e pronto para ser usado – sem palavras. Ele precede todos os acordos e desacordos (não é pensado, articulado artificialmente), sendo este o ponto de partida de toda união.

Na comunidade há distinção, ou seja, uma divisão clara entre esta e os demais grupos. A comunidade é pequena, todos conseguem vela e a comunicação é densa e fluída, e é também auto-suficiente, pois todas as atividades atendem a necessidade das pessoas que fazem parte dela e o isolamento é praticamente inexistente. A mesmidade é compartilhamento de vantagens entre os membros, independente do talento e importância deles.

A sociedade por sua vez se caracteriza pela falta de vínculos entre os homens. As atividades são puramente aquisitivas (consumo) tendo como base o mercado a troca e o dinheiro. Na sociedade valoriza-se o modernismo, as inovações tecnológicas, e a impessoalidade das relações. O entendimento precisa ser construído através de acordos que precisam ser monitorados sendo que são baseados em consensos temporários. A sociedade é frágil, e sempre necessita de vigilância, reforço e defesa.