quarta-feira, 7 de outubro de 2009

As Faces da Angústia na Teoria Psicanalítica



A primeira teoria freudiana da angústia se constitui a partir dos estudos sobre as neuroses de angústia (1895[1894]). A perspectiva é de uma “má utilização da energia da libido”, ou seja, libido(energia sexual) não descarregada que se transformaria em angústia.

Freud (1926[1925])) em seu artigo Inibição, Sintoma e Angústia, introduz a segunda teoria da angústia, definindo-a como um afeto cujo caráter acentuado seria o desprazer, com a emergência de sintomas físicos ligados diretamente a alguns órgãos do corpo — algo que se sente — e que seria a causa do mecanismo defensivo nomeado de recalque, produtor dos sintomas neuróticos.

Freud (1926{1925]) , nesse mesmo artigo, vai considerar o desamparo biológico vivido pelo bebê, no momento do nascimento, como o protótipo da experiência da angústia. É a separação do bebê do corpo da mãe, o excesso de excitações advindas do mundo exterior e a incapacidade de simbolização desta experiência que levaria a um estado de desamparo, e que segundo Freud indicaria a primeira experiência de angústia vivida pelo ser humano.

Posteriormente, as experiências de angústia, funcionariam como uma sinalização da possibilidade de retorno da experiência de desamparo do sujeito, um sinal de perigo. Freud assinala aí uma importante passagem da angústia automática para a angústia sinal que permitiria ao sujeito um preparo diante do que poderia ser traumático.
Para Freud, então, o perigo é a ausência do Outro primário que no início da vida é aquele que atende as necessidades da criança impedindo a repetição da situação de desamparo originário.

A partir destas constatações é que Freud vai postular a angústia como causa e não conseqüência do recalque, entendendo-a como sinal de um perigo de ordem pulsional. A angústia é um sinal do eu diante de um perigo pulsional, ou seja, o retorno do recalcado. O recalcado é sempre um desejo que insiste em retornar, muitas vezes pela via do sintoma. O sujeito frente à eminência do surgimento de um desejo recalcado reproduz uma angústia já vivida, o que coloca em ação os mecanismos de defesa.

Lacan em seu retorno a Freud vai propor que a angústia é o único “afeto que não engana” e que surge sinalizando algo para o sujeito. Ele afirma que o trauma do nascimento não é a separação da mãe, mas o fato de que a criança ao nascer tem que aprender a respirar. Afirma, que este é o verdadeiro trauma original – uma invasão que o bebê sofre tendo que aspirar um ambiente totalmente Outro. Lacan vai colocar a angústia na sua condição de afeto central, em torno do qual tudo se ordena. Para ele afeto é algo da ordem da sensação e não um sentimento.

Lacan vai relacionar a angústia ao encontro com o desejo do Outro. É na confrontação do sujeito com o desejo do Outro que a angústia pode surgir. A questão que emerge é O que sou para o Outro? O que o Outro quer de mim? Essa questão que é sempre um enigma é geradora de angústia. Não é portanto, a ausência do outro que desperta a angústia, mas sim o enigma do desejo do Outro. Ser colocado na posição de objeto do desejo é o que faz emergir o desamparo e, conseqüentemente a angústia. (Uma impossibilidade de suportar a falta no Outro). O desejo do Outro é para Lacan o único lugar do qual o sujeito pode se apreender como desejante, sendo que na angústia o sujeito está em estado de total desconhecimento acerca desse desejo que lhe perpassa.

O que está em jogo na angústia é o momento em que o sujeito torna-se nada, objeto, quando falta o desejo, ou seja, quando falta a falta. A partir do momento em que o sujeito se vê diante do enigma do desejo do Outro, constituindo-se o objeto que virá preencher a falta desse Outro, vê-se diante de sua própria castração. Ao mesmo tempo em que o Outro não é capaz de satisfazê-lo plenamente, o sujeito compreende que também não é capaz de proporcionar tal satisfação. Para Lacan, a saída da angústia é o desejo, por isso afirma que o remédio para a angústia é o desejo.